Redações dos alunos da Turma de Mineralogia Macroscópica (Fageo - UFPA) - 2021
- Fábio Brasil
- 10 de mai. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 21 de mai. de 2021
Na disciplina Mineralogia Macroscópica do terceiro semestre do curso de Geologia da UFPA, ministrado pela Professora Dr. Rosemery Nascimento (tutora do Grupo PET-Geologia UPFA) no Período 2021.1, foi realizado uma atividade onde os 26 alunos teriam que redigir uma redação sobre o seu mineral preferido. Dentre todas as as redações, três foram selecionadas para a publicação no site do Grupo PET-Geologia UFPA, a redação dos alunos Paulo Pereira Albuquerque, com o tema "Ouro de Tolo?", Giovanna Fernandes Gomes, com o tema "Charada do Cristal" e da aluna Letícia Almeida de Souza, com o tema "A pedra filosofal de um geólogo pode ser um mineral berilo vermelho."
Ouro de Tolo?
Aluno: Paulo Pereira Albuquerque
Há algumas décadas, o Oeste fora o principal centro econômico do País, em função das grandes reservas de auríferas que lá ocorriam. Não é necessário, dessa forma, ressaltar que a elite se concentrava nessa região, para onde pessoas, de todos os confins do globo, apostaram tudo o que possuíam na possibilidade de enriquecerem. Após anos de prosperidade, as reservas do Oeste tornavam-se cada vez mais escassas, o que aumentava, em muito, os custos para a extração de ouro; quando as reservas tornaram-se inviáveis para a exploração do minério, houve um grande êxodo em direção ao litoral, onde as plantações de monoculturas geravam grandes lucros por conta da exportação para o outro lado do Oceano. Apenas algumas poucas almas restaram naquele canto do País, com a esperança de que um dia uma nova reserva seria descoberta, e a prosperidade retornaria.
Por volta de 15 anos atrás, uma grande notícia reverberou nos 4 cantos do País, havia sido encontrado algumas gramas de ouro em um riacho, o que, segundo estudiosos, é chamado de depósito de placer; além disso, foi encontrado a alguns quilômetros depósitos de veios hidrotermais, o que provocou grandes reverberações por conta da possibilidade da volta da ‘corrida do ouro’. Logo, profissionais foram enviados para o local, a fim de estudarem esse novo depósito o qual traria a prosperidade de outrora.
Após coletarem amostras, retiraram-se para uma pousada nas proximidades com o intuito de analisá-las, o que foi feito sob as luzes de uma lamparina, pois já era noite; as amostras eram opacas e apresentaram um intenso brilho metálico, o que os deixou muito empolgados, e isso foi o bastante para tomarem como certa a identidade do mineral. Contudo, o experiente Professor Lidenbrock sugeriu que fossem realizados outros testes para uma melhor identificação das amostras, por meio dos quais constatou-se que elas apresentam uma dureza muito elevada, na ordem de 6 na escala de Mohs; e uma densidade relativa igual à 5,02; traço esverdeado ou preto acastanhado; fratura concoidal; e exibiu uma leve atração por um imã de bolso. Esses resultados deixaram os profissionais cabisbaixos pois diferiam muito das propriedades físicas do ouro que eram conhecidas até o momento; mas a verdade veio no dia seguinte para pôr fim a qualquer resquício de dúvida, já que, sob a luz do sol, as amostras exibiram cor amarelo do latão pálida; tratava-se do mineral pirita.
Isso bastou para pôr a todos em um profundo estado de desânimo, todos achavam que estava findada a prosperidade de outrora. Entretanto, o Professor Lidenbrock estava deveras contente, pois vislumbrou uma grande oportunidade, ele tinha conhecimento de empreendimentos pioneiros no Velho Continente, onde extraía-se pirita para obter ouro e cobre associados a ela; além de enxofre para a produção de ácido sulfúrico e caparrosa (sulfato ferroso), a qual é utilizada em tingimento, no fabrico de tintas, como conservante de madeira e como desinfetante; ademais, o uso da pirita como gema. Tendo em mente essas informações, a Nação prontamente mobilizou uma grande quantia em investimentos a fim de se utilizar o quanto antes a nova reserva recém-descoberta.
Certamente a prosperidade não retornou ao Oeste da forma como todos imaginavam, ela veio graças aquele mineral tão traiçoeiro, que por vezes, fez muitos de tolos, mas a nós, faz-nos felizes.
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Charada do Cristal
Aluna: Giovanna Fernandes Gomes
Antes de falarmos sobre mim, que tal conhecer um pouco sobre a minha origem? Tudo começa há milhares de anos atrás, quando um líquido que habita as regiões profundas da Terra está aprisionado, e fazendo de tudo para poder sair, mas não consegue encontrar uma saída, até que através de fendas e fissuras, traça um longo caminho para chegar mais perto da superfície. Já afastado do calor do centro do planeta, esse líquido começa a se resfriar, dando origem a belas rochas. E em raras ocasiões também são formadas cavidades com a água que penetra no subsolo a partir da superfície – e é nessas cavidades que eu apareço.
Sou um dos minerais mais comuns no planeta, estou presente em todos os cantos, ou melhor, em todos os tipos de rocha. Eu não gosto de ficar solidão e por isso, em soluções aquosas nas cavidades das rochas, minhas moléculas se agrupam na forma de cristais. Eu aguento muita pressão, ou melhor, fusão, pois sou submetido a temperaturas de centenas de graus Celsius. (Nesse processo meus cristais surgem em torno de um minúsculo núcleo, chamado de germe, sobre o qual as moléculas vão se juntando, fazendo minha estrutura ganhar volume). Eu tenho uma geometria um tanto quanto diferente, pois tenho três faces em cada extremidade (que são determinadas pela forma como meus átomos se ligam entre si). Eu possuo vários "irmãos", uns são incolores, chamam eles de cristais de rocha, são os mais comuns e têm pouco valor comercial. Outros tem um tom violeta, são usadas como pedras semipreciosas e transformadas em objetos de arte ou jóias. Depois de tudo isso, eu acho que você já sabe quem eu sou? Isso mesmo, sou o quartzo, que modéstia à parte, além de ser bastante útil em vários setores industriais, graças à minha capacidade de fazer com que meus átomos vibrem em intervalos bem definidos, sou muito usado para controlar a frequência de rádios, televisores e relógios (aposto que dessa você não sabia).
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A pedra filosofal de um geólogo pode ser um mineral berilo vermelho.
Aluna: Leticia Almeida de Souza
Sempre achei interessante a comparação das coisas que vemos nos filmes com o nosso dia-a-dia. A ficção sempre está muito longe da nossa realidade, o que particularmente acho uma pena, acredito que tudo seria mais divertido e empolgante. Quando criança, eu me apaixonei pelo universo de Harry Potter, passava longas horas imaginando o quão legal seria ter contato com tantos objetos mágicos e emocionantes, e até hoje alimento esse amor pela saga e sempre me emociono quando assisto.
Ao escolher a geologia como a profissão que eu queria para a minha vida, passei a observar mais a fundo os objetos de estudos, e me encantei grandemente com as rochas, minerais e todas os fenômenos que acontecem na terra e tornam ela tão dinâmica. Logo comecei a pesquisar as coisas mais extraordinárias possíveis que eu poderia encontrar na geologia, e certa vez digitei no google o seguinte texto : “os minerais mais raros do mundo”. Logo me deparei com o berilo vermelho (fig1),conhecido como bixbite, em alguns sites também ele estava descrito como esmeralda vermelha. De primeiro momento eu não pude deixar de associar com a Pedra Filosofal (fig 2) dos filmes e livros de Harry Potter, além da semelhança visual, as duas são extremamente raras, cada uma no seu universo e com suas particularidades.

Fig 1. Berilo Vermelho- Minerais raros, Imagem: Parent Gery, Via Wikimedia Commos.

Fig 2. Cena do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) / Crédito: Divulgação/Warner Bros. Pictures.
O berilo vermelho, foi descrito pela primeira vez em 1904, e embora faça parte do mesmo grupo químico da água marinha e da esmeralda, é considerada bem mais rara. A esmeralda vermelha pode ser encontrada em poucas partes de Utah e do Novo México. É um mineral extremamente difícil de se explorar de forma economicamente viável. Consequentemente, os preços do berilo vermelho podem atingir até 20 mil reais por quilate. Trata-se de um metal muito leve, de baixa densidade (1,848 g/cm3 ), bastante rígido, de coloração branco-prateado, com ponto de fusão a 1.2870 C e ponto de ebulição a 2.5000 C. O berílio forma ligas especiais com cobre, alumínio, ferro, níquel, cobalto e outros metais, proporcionando às mesmas uma incomparável combinação de tenacidade, dureza extraordinária, resistência à corrosão, condutividade térmica e elétrica e elasticidade.
A pedra filosofal por sua vez foi desenvolvido no filme pelo bruxo Nicolas Flamel no século XIV, e tem a capacidade de transformar qualquer coisa em ouro puro além de também produzir o Elixir da Vida, capaz de lhe proporcionar a vida eterna. O mais interessante nisso tudo é que a pedra filosofal não foi inventada pela autora de Harry Potter, mas teria de fato existido durante a era medieval. Existia um grande grupo de pessoas chamados de alquimistas, que buscavam encontrar diariamente a fórmula exata para a criação dessa substância. Os textos da época afirmam que ela teria uma forma cristalina, contendo duas cores: o vermelho, responsável por transformar os metais em ouro; e o branco, que iria convertê-los em prata. A rocha também seria uma combinação dos quatro elementos, água, ar, terra e fogo, não sendo inflamável e solúvel a todo tipo de líquido.
A Pedra filosofal e o berilo vermelho não são a mesma coisa, e provavelmente não tem relação alguma um com o outro, mas é fantástico usar a imaginação para trazer o universo mágico para a vida de uma futura geóloga comum. A pedra filosofal eu provavelmente nunca vou encontrar, mas o berilo vermelho, apesar de muito raro, acredito que tenho uns poucos portentos de chance. A geologia com certeza algum dia vai me proporcionar isso.
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