Atividades Remotas do Grupo PET Geologia - Artigo de Yvina Santos
- Fábio Brasil
- 21 de set. de 2020
- 5 min de leitura

Importância da conservação de áreas como o Lajedo Soledade no Município de Apodi (RN)
Yvina Cristiny Matos dos Santos
(Bolsista do Grupo PET-Geologia da UFPA)
Rosemery da Silva Nascimento
(Tutora do Grupo PET-Geologia da UFPA)
Introdução
Considerada uma das maiores exposições de rochas carbonáticas, depositadas na Bacia Potiguar durante o Cretáceo Superior, o Lajedo de Soledade localizado no Rio Grande do Norte (RN), apresenta notória importância geocientífica e cultural. No entanto, durante um significativo período de tempo, o Geoparque Soledade foi exposto a constantes explorações de calcário, que afetavam sua preservação, sendo assim necessárias medidas imprescindíveis de conscientização e geoconservação. Desse modo, este artigo apresenta como temática principal, a história de formação e preservação do Lajedo, destacando as ações realizadas por geólogos, ambientalistas, espeleólogos, instituições como a Petrobras e a população local, nas quais culminaram na conservação desse patrimônio geológico brasileiro.
A partir dessa abordagem, o presente trabalho corresponde a uma atividade remota do Grupo PET-Geologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e tem como objetivo analisar os impactos ambientais das explorações de calcário e as ações realizadas para geoconservação do Lajedo, além de demonstrar como essas ações se tornaram possíveis por meio da ajuda efetiva da comunidade local, destacando os benefícios gerados por meio da preservação desse patrimônio, de modo a contribuir significativamente nos aspectos socioeconômicos, cientifico, cultural e ambiental.
Os procedimentos metodológicos compreenderam essencialmente uma revisão bibliográfica pautada em autores como Porpino (2009), Bagnoli (1994) e Alves (2006). O resultado desta pesquisa mostra que a preservação do Geoparque Soledade contribuiu para o importante papel que esse apresenta nos aspectos educacionais, culturais e turísticos da região, permitindo a construção de uma história e identidade para aqueles que cuidam e visitam o Lajedo de Soledade no RN.
Metodologia
A metodologia utilizada para a elaboração desse trabalho de pesquisa consiste no levantamento bibliográfico de documentos que abordam pontos importantes a serem destacados sobre o Lajedo de Soledade, entre eles a sua relevante necessidade de preservação e ações executadas para o alcance desse objetivo.
Resultados
O Lajedo de Soledade (Fig. 1) está localizado na porção sudoeste da Bacia Potiguar, mais especificadamente no distrito de Soledade, Município do Apodi, oeste do Rio Grande do Norte. O lajedo compreende uma área sedimentar de aproximadamente 3 km2 com exposição de rochas carbonáticas, constituindo um importante sítio paleontológico/arqueológico do nordeste brasileiro. O geoparque se destaca pela beleza cênica proporcionada pelas feições cársticas presentes no local, pela quantidade de pinturas rupestres (Fig. 2) e fósseis preservados (Fig. 3), sendo assim considerado um monumento geológico de significativo valor cientifico, cultural e turístico (Porpino et al, 2009).

Fig. 1- Visão panorâmica do Lajedo de Soledade, Município de Apodi (RN), destacando o relevo cárstico da região.

Fig. 2- Detalhe de pinturas rupestres encontradas em calcários no Lajedo de Soledade, RN.

Fig. 3- Amostra de rocha calcária contendo fósseis. Acervo do Museu do Geoparque de Soledade em Apodí (RN).
O Lajedo Soledade foi descrito pioneiramente em agosto de 1987 por Geraldo Gusso, geólogo da Petrobras, com o objetivo principal de analisar o potencial da região para exploração de petróleo. Entretanto, nessa visita técnica foram por ele observados dois principais aspectos referentes ao lajedo: o primeiro aspecto faz referência a presença de pinturas rupestres na região (tais como: aves, mãos e formas geométricas). O segundo corresponde a constante destruição na qual o lajedo vinha sendo exposto. A exploração de calcário para a produção de cal gerava grandes impactos no meio ambiente e ameaçava significativamente a preservação paleontológica e arqueológica. (Bagnoli,1994).
Por ser considerado um excelente reservatório carbonático, entre os anos de 1987 e 1990 Gusso, Bagnoli e outros geólogos realizaram diversas visitas na região do lajedo e constataram o avanço frequente de frentes de lavras para a retirada do calcário. Mediante a esse cenário, em 1991, Bagnoli observando a grandeza da destruição e suas consequências, reuniu um grupo constituído por ambientalistas, geólogos, espeleólogos e advogados para realizar a missão de preservação desse patrimônio geológico (Bagnoli, 1994).
Era notória a necessidade da retirada total das atividades de mineração realizadas na região, com isso, por meio da ministração de palestras conscientizadoras para a comunidade local, o grupo propôs que essas atividades fossem remanejadas para locais sem a importância paleontológica e arqueológica, de maneira a tornar possível a abertura da área que compreende ao lajedo para atividades como o turismo. Tal proposta foi aceita pela população, que contribuiu significativamente para que o objetivo de preservação fosse alcançado (Bagnoli, 1994).
Ainda segundo Bagnoli (1994), com a ajuda oferecida pela população local, se tornou possível o estudo das áreas de interesse para o projeto de preservação, de maneira a selecionar tais áreas por critérios como: presença de vestígios paleontológicos e arqueológicos e feições geológicas de interesse. Foram realizadas atividades como delimitação de trilhas turísticas, treinamentos para os guias turísticos, criação de biblioteca, palestras sobre novas formas de trabalho para a população, entre outras.
No ano de 1992, houve o patrocínio da Petrobras, de maneira a colaborar juntamente com a comunidade, para o desenvolvimento de serviços que objetivavam a ampliação de estudos e preservação do Lajedo de Soledade com a criação de um museu (Figs.3 e 4). Além disso, houve a criação da Fundação Amigos do Lajedo de Soledade (FALS), entidade civil sem fins lucrativos, que tem por objetivo a proteção do patrimônio cultural e histórico do lajedo (Porpino et al, 2009).

Fig. 4- Placa que demarca o portão de acesso da área Araras. Lajedo de Soledade (RN).

Fig. 5- Museu do Lajedo de Soledade localizado no centro da cidade de Apodí (RN).
Dada a sua importância geológica, arqueológica, geomorfológica e paleontológica, o Lajedo de Soledade apresenta uma significativa potencialidade geoturística que culminou na divisão da área preservada em três áreas centrais de visitação sendo elas: 1) Araras que integra elementos geológicos e geomorfológicos com sítios arqueológicos que apresentam pinturas rupestres de tradição agreste; 2) Urubu, bastante visitada na época chuvosa devido a formação de cachoeira e a 3) Olho d’água, selando a união do conhecimento geocientífico com o conhecimento popular (Alves et al, 2016).
Essas características fazem do lajedo um local com potencial para a realização de atividades que contribuem para a divulgação de geociência de forma educativa e simples, e consequentemente, contribuem para a construção de conhecimento sobre a história de evolução da terra (Alves et al, 2016).
Considerações finais
Por meio da leitura detalhada dos documentos que serviram como base para a elaboração desse artigo, foi possível concluir, que a preservação da área onde se encontra localizado o Lajedo de Soledade contribuiu significativamente para a possibilidade de divulgação conhecimento geocientífico, além disso, é notória a importância do trabalho da comunidade para ações de conservação do patrimônio geocientífico, como as que ocorreram na região.
Por fim, destacamos que o trabalho conjunto da Petrobrás, FALS e da comunidade local, foi essencial para que o Geoparque Soledade alcançasse o viés que apresenta hoje, por meio da preservação de suas riquezas geológicas, paleontológicas e arqueológicas, contribuindo assim para atividades turísticas na região e a difusão de conhecimento geológico.
Referências Bibliográficas
ALVES, J. J. F.; MEDEIROS, W.D.A.; TARGINO, D.R. Geodiversidade e Geoturismo no Município de Apodi/RN: O caso do Lajedo de Soledade. REGNE, vol. 2, N° Especial (2016).
BAGNOLI, E. 1994. O Lajedo de Soledade, Apodi (RN): um exemplo de preservação 239-253.do patrimônio cultural brasileiro. Revista de Arqueologia, v. 8, n. 1.
PORPINO, K. O.; JUNIOR, V. Santos; SANTOS, M. F. C. F. Lajeado de Soledade, Apodi, RN. Ocorrência peculiar de megafauna fóssil quaternária no Nordeste do Brasil. Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, [S.l.], v. 2, p. 403-412, 2009.
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